Aracaju ou São Cristovão? O que é pior?
Artigo de 10/12/2010.
*José Firmo
Primeiro é preciso esclarecer o seguinte: antes da vigência da atual Constituição de Sergipe, toda Zona de Expansão Urbana de Aracaju não pertencia ao município de São Cristovão. Pertencia a São Cristovão apenas uma pequena faixa de terra, na porção Sul do território e outra pequena faixa no bairro Santa Maria.
Feito o esclarecimento, é preciso dizer que para os povoados de Aracaju não é nada fácil decidir se prefere pertencer a Aracaju ou São Cristovão. Por uma simples: os serviços e os investimentos feitos pela prefeitura de Aracaju nos povoados são insignificantes e São Cristovão , pelo tratamento dispensado aos seus povoados e núcleos, como o Grande Rosa Elze, por exemplo, não nos perece ser melhor do que se tem hoje sendo Aracaju.
Há poucos anos escrevi artigo pregando a emancipação da Zona de Expansão. Seria mais uma provocação do que uma realidade, porém mais alentador do que as outras duas opções.
Os exemplos estão aí para todos vêem. A PMA acaba de investir R$ 5,5 milhões na urbanização de um trecho na margem do Canal Santa Maria (a PMA diz erroneamente que é no Rio Vaza-Barris), no Mosqueiro. Muito dinheiro investido. Poucos moradores alcançados. A orla foi feita para a população de outros bairros, de outras cidades, de outros estados, de outros países. Os moradores do Mosqueiro alcançados são apenas os que moram nas proximidades. Outro exemplo: o prefeito da capital acaba de reunir a imprensa para anunciar obras de canais supostamente para a Zona de Expansão. Pura ilusão. Na Zona de Expansão está apenas o minúsculo e de classe média loteamento Aruana, que ele promete serviços de drenagem e pavimentação. Mas os canais serão feitos no bairro Atalaia, mais de perto nos conjuntos Beira Mar e Costa do Sol e no desrespeitoso loteamento Atalaia Sul. A Zona de Expansão, que vai inundar no próximo inverno novamente, em nada será beneficiada com as obras anunciadas. Além disso obras que só sairão daqui a um ano. Os canaizinhos anunciados custarão R$ 43 milhões. A drenagem da Zona de Expansão custará R$ 3 bilhões. Ainda nos últimos dias a PMA “entregou” ônibus climatizados, com computadores, acesso à Internet, etc, mas para uma linha que atende aos Shoppings e a bairros da classe média. Quem tiver acesso às tabelas dos horários dos ônibus que atendem os povoados Mosqueiro, Robalo, São José, Areia Branca, tomará um susto. Tem intervalos entre viagens de quarenta minutos, duas horas, e até mais de três horas. O estado dos ônibus e a lotação nem precisam ver ou saber.
Só mais um exemplo: a Justiça Sergipana há quatro anos condenou a Prefeitura de Aracaju a construir um cemitério para substituir os clamados clandestinos que foram interditados por essas bandas. Mas, o prefeito ignora.
A Zona de Expansão representa 48% da área de Aracaju, no entanto os Gestores tratam-na como se fosse um bairro apenas. Saúde, educação, coleta de lixo, área de lazer, drenagem, coleta e tratamento de esgoto, esporte, cultura, tudo isso é negligenciado para os pobres e nativos.
As nossas demandas não são as mesmas do “sistema”. O turismo, a indústria sem chaminé, o desenvolvimento econômico, os interesses invisíveis prevalecem sobre as nossas necessidades menores. Nem vou citar as demandas da esfera estadual.
Só gostaríamos de ter serviços simples e baratos e investimentos modestos. Chega de autoridades que dizem por nós quais são nossos sonhos! Chega de gestores que fazem obras com o nosso dinheiro pensando em poucos e dizendo que é para nós!
Uma pequena praça, uma quadra de esportes, escolas dignas, mais unidades de saúde, creches, transporte coletivo suficiente, coleta de lixo regular, iluminação pública plena, vias pavimentadas, um simples cemitério. Um pouco de esporte e de incentivo à cultura. Nada de luxo. Nada muito. Apenas o básico.
Demandas reiteradas vezes registradas na Prefeitura de Aracaju.
Eu não acredito que exista um conluio, uma conspiração, uma maquinação do tal “sistema” para escorraçar os nativos e pobres na Zona de Expansão.
E olhem que somos há três décadas - mais ainda há quatro anos - administrados pelo o que existe de mais popular, mais progressista, mais à esquerda, mais socialista que existe em nossa capital.
Pensando bem, como diria o Deputado Federal mais votado do país, pior do que tá, não fica. A emancipação da Zona de Expansão, a mudança para São Cristovão ou outra mudança qualquer não pode ser pior do que aí está.
*Presidente da ADCAR.
Nenhum comentário:
Postar um comentário