José Cristian Góes
09/11/2011 - 05:52
Hospital do câncer: um debate midiotizado
Esse hospital só existe no palco da mídia
Numa sociedade onde grande parte dos seus indivíduos é midiotizado, isto é, onde todos se movem sem qualquer reflexão numa mesma direção quase que exclusivamente em razão das informações homogeneizadas que recebem, um fato exemplar chama a atenção pela força informativa que possui: a disputa pela paternidade do hospital do câncer entre o senador Amorim e o governador Déda, e seus respectivos grupos políticos.
Esse debate envolvendo um hospital é uma prova inequívoca do baixíssimo nível de debate político que se tem. Aliás, não há sequer debate porque não há assunto. O tema do hospital do câncer é, na prática, oco de sentido concreto. Não há recursos, empenho, obras, hospital. O que há são pacientes, muitos por sinal, a espera de atendimento no caos da Saúde. Mas o porquê de tanta disputa pela paternidade de um hospital completamente invisível? Porque o voto na urna, neste caso, vem muito antes do hospital e ele, sim, é bem visível e concreto.
As figuras públicas envolvidas na disputa pela paternidade de um possível hospital do câncer, tornou-o real apenas no palco da mídia. Bastou um fato: a intenção divulgada na mídia que o Governo Federal pode liberar apenas R$ 18 milhões dos mais de R$ 70 milhões necessários para a obra. É no palco da mídia que se convence e que se forma a opinião pública em seu favor e em desfavor do adversário, apenas na luta pelo poder. E os dois lados usaram e abusaram de seus poderes junto ao aparato da mídia que dispõem. Assim, buscam persuadir eleitores a acreditar que ele, sim, conseguiu o benefício e por isso merece seu voto. O hospital é apenas uma moeda de troca eleitoral. E assim se vota, aliás, troca-se o voto pela informação do que se faz.
Em outras palavras: hospital do câncer só existe no palco da mídia de massa e a discussão trágica sobre sua paternidade é tão somente uma disputa pelo reforço do capital político eleitoral das partes, que será gasto de dois em dois anos, na hora da eleição.
O palco da mídia não é obra do acaso. Não há neutralidade. O discurso é produzido, intencional, construído a partir de uma série de interesses, na maioria das vezes não públicos, e por isso, exige dos leitores, ouvintes e telespectadores, o mínimo de desconfiança e reflexão.
FONTE: http://www.infornet.com.br/.
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