Craque X Crack
Dois prefeitos de municípios do interior de Sergipe dão grandes exemplos de ações simples e baratas que podem contribuir decisivamente para o afastamento de jovens e de crianças das drogas, além de incentivar a prática de esportes.
Em Umbaúba a prefeitura anunciou a construção de trinta campos de futebol.
Em Nossa Senhora do Socorro é promovido um campeonato de futebol envolvendo 108 equipes e mais de 2.000 atletas.
Cidades pequenas, com orçamentos limitados, com várias e importantes prioridades para suas populações, têm encontrado meios e usado da criatividade, da competência administrativa e de planejamento para investir numa área que para alguns não tem valor.
Como Nossa Senhora do Socorro e Umbaúba, muitas outras cidades investem no esporte e obtêm resultados satisfatórios.
Mas por que Aracaju, a capital do Estado, não tem essa preocupação? Por que o Poder Público municipal em Aracaju não enxerga no futebol uma saída para vários problemas existentes nos bairros da cidade.
Por que não são construídos campos de pelada na periferia de Aracaju? Por que a Prefeitura de Aracaju não promove campeonato de futebol amador nos bairros da cidade?
Quem não se lembra de quantos campos de futebol existiam em Aracaju? Eram vários no Centro Administrativo; outros tantos entre a rótula do DIA e o Conjunto Médici; os chamados campos dos canos, na AV. Hermes Fontes; na AV. Maranhão, no Bairro Santos Dumont, na Atalaia, na Coroa do Meio...
Hoje são alguns poucos campinhos. Que se sabe a Prefeitura nas últimas décadas recuperou ou melhorou áreas (não construiu um novo) um no Jardim Esperança, outro no Bugio e outro no Orlando Dantas. Muito pouco. Quase nada. Nem chaga perto da quantidade de campos que foram destruídos.
No ritmo que vai, a tendência é que em poucos anos campo público será uma raridade e em dimensões oficiais nem pensar. No máximo um retângulo de areia ou de concreto.
Como não estaria se sentido o saudoso Carlos da Liga de Futebol Menor? Como não se sentem desportistas como João Rollemberg Farias (o Tarzan), que, como Carlos, tanto lutou pelos campeonatos nos bairros de Aracaju? Ou François e Américo Beata, das Ligas de Quarentões, que realizam jogos em arremedos de campos?
E como devem se sentir os organizadores de campeonatos que ainda resistem na Zona Norte (Santos Dumont, Bugio, Jardim Centenário, Veneza, Lamarão) ou na Zona Sul (Santa Maria, Robalo, Mosqueiro)?
E como não se sentem as crianças e os jovens nos bairros de Aracaju que não tem campos para a prática do esporte?
Como vão surgir novos talentos no futebol?
A quem interessa essa omissão da Prefeitura?
Creio que só interessa a gestores incompetentes e insensíveis e aos traficantes de drogas ilícitas.
Gestores irresponsáveis e sem a sensibilidade necessária não percebem a importância do futebol na cultura do país (e Aracaju não é diferente) e não sabem dialogar com a periferia para ter essa percepção.
Aos traficantes de drogas ilícitas interessa a omissão do Poder Público à medida que o ócio e a falta de alternativas tende a aumentar a quantidade de usuários e de jovens predispostos ao consumo de drogas.
O consumo de drogas, principalmente do crack, tem trazido grande preocupação para toda população, mas alguns gestores públicos teimam em falar, em jogar palavras ao ar, sem, contudo, fazer nada efetivamente.
Campo de futebol em Aracaju é um privilégio para poucos. Tornou-se um mercado rentável, onde ou se tem dinheiro para pagar aluguéis altíssimos ou se tem amizade em clubes ou órgãos públicos nos quais ainda resta algum campo.
Aracaju dá mostras desse comportamento: na Funcaju, órgão que deveria promover também o esporte, não falam sobre a assunto. Futebol? Parece que nem sabem o que é. Dos R$ 15,6 milhões previstos no Orçamento 2009 para a Funcaju, R$ 13,74 milhões são para a chamada cultura e apenas R$ 1,4 milhões para o desporto e o lazer. Além da disparidade de valores entre políticas duradouras, como as atividades esportivas e os valores para os eventos esporádicos, como festas e festivais, percebemos aí que mesmo esses R$ 1,4 milhões se diluem entre as várias modalidades.
Não precisa que os gestores sejam desportistas, como Fábio Henrique e Ânderson Farias, mas devem ter, no mínimo, sensibilidade suficiente para perceber que com pouco dinheiro muitos campos de pelada podem ser feitos em toda Aracaju e que promover a prática do futebol pode não acabar com as drogas, mas significa uma importante ação que pode se constituir na diferença entre as palavras craque e crack na vida de um jovem, dentro de uma família ou dentro da sociedade.
Que não se formem atletas profissionais, que não se disputem títulos, que não se acabe com o vício nem com o tráfico de drogas, mas que se proporcione acesso ao lazer ao povo pobre. Simples, barato e democrático, assim é o futebol. Pena que poucos gestores públicos assim enxerguem!
JOSÉ DIAS FIRMO DOS SANTOS
Presidente da ADCAR – Associação Desportiva, Cultural e Ambiental do Robalo.
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