sábado, 25 de agosto de 2012

Artigo: Treze vereadores de Aracaju vivem momento de construtores.



*José Dias Firmo dos Santos
A Câmara de Vereadores de Aracaju escreveu na quinta-feira da semana passada, 16/08/12, uma página negativa na história do Legislativo Municipal, ao rejeitar por treze a quatro a emenda à Lei Orgânica que objetivava limitar em até três o coeficiente de aproveitamento do solo em Aracaju.
A importância de se aprovar a emenda se revestia num gesto de responsabilidade do Poder Legislativo Municipal, pois os artigos 199 e 203 da Lei Orgânica são permissivos, dúbios e contrariam a proposta de novos índices de ocupação do solo previstos no projeto de lei do Código de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo que tramita na Câmara.
Os dispositivos da Lei Orgânica acima citados são conflitantes e não estabelecem limites quando dizem no § 1º do artigo 199 que o coeficiente único de aproveitamento no Município de Aracaju é igual a 3 (três) e diz no § 2º. do mesmo artigo que o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano pode determinar que seja excedido o coeficiente de aproveitamento único, fixado no § 1º. deste artigo. No artigo 203, que se refere à aquisição do direito de construir além do coeficiente único, o legislador municipal passou a enumerar as situações possíveis, que são as seguintes: I – para o coeficiente maior do que 03 e menor ou igual a 04 – isento; II – para o coeficiente maior do que 04 ou menor ou igual a 06 – 10% (dez) por cento do valor de lançamento fiscal do metro quadrado de terreno objeto da construção; III - para o coeficiente maior do que 06 (grifo nosso) – 25% (vinte e cinco) por cento do valor de lançamento fiscal por metro quadrado de terreno objeto da construção.
Reparem que no inciso III do artigo 203 da Lei Orgânica estabelece que o coeficiente pode ser maior do que 06 (seis), ou seja, não tem limite.
Por outro lado o projeto de lei do Código de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, apresentando pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo prevê que Aracaju deverá ter coeficiente básico de aproveitamento de 02 (dois) e coeficientes máximos de 0,25; 0,4; 1; 3 e 4, a depender da zona da cidade onde se pretenda construir.
Nos dias 10 e 11 de outubro de 2011, a própria Câmara Municipal de Aracaju realizou oficina de capacitação para os vereadores sobre o Plano Diretor. Na oficina o palestrante, Daniel Montandon, Secretário Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades, recomendou aos vereadores que Aracaju adotasse o índice 1 (um). Nesse particular os vereadores de Aracaju podem ser perdoados pois apenas uns três ou quatro compareceram às palestras da oficina. Não deram a menor importância.
Além disso a população aracajuana em diversos momentos da revisão do Plano Diretor, apresentou emendas limitando o índice em 01 (um).
Feitas estas considerações em torno da legislação, eu gostaria de tecer comentários ao comportamento dos dezenove vereadores. Primeiro eu gostaria de assinalar que os quatro que votaram a favor da emenda (Emerson Ferreira (PT), Bertulino Menezes (PSB), Moritos Matos (PDT) e Josenito Vitale (DEM)) cumpriram com os seus deveres como vereadores que representam a população. Segundo que o presidente da Casa, Emmanuel Nascimento (PT) também cumpriu com a sua obrigação de conduzir a sessão. E que a vereadora Rosângela Santana (PT) está devendo explicações pelo fato de ter faltado à sessão.
Quanto aos treze que votaram contra a emenda e que apresentaram justificativas esdrúxulas, não há a menor explicação. Eles foram desrespeitosos com a cidade. Foram irresponsáveis. Deram justificativas vergonhosas. Não dá para saber se mais vergonhoso foi votar apenas dizendo “contra” ou dizendo “não”, ou apresentar aquelas justificativas mentirosas.
Ficou patente como será esta revisão do Plano Diretor. Ficou claro que o que os vereadores vinham afirmando a favor do Plano Diretor, não passou de palavras falsas.
E ficou provado que os partidos não têm a menor importância, nem têm debate interno sobre temas tão importantes como o Plano Diretor.
Jovens ex-estudantes e ex-militantes do movimento estudantil, ex-taxista funcionário da DESO, médico, pequeno empresário, pastor evangélico, ex-jornalista, proprietário de escritório de cobranças, radialista e mais alguns sem atividades claras ou definidas; comunista, socialista, democrata, peemedebistas, petebista, petista; de Direita, de Esquerda ou de Centro; da bancada do amém, digo de situação ou de oposição, estes são os vereadores que por um momento se confundiram e pensaram que eram proprietários de grandes construtoras.
Por falar em bancada de situação, vejam que o Plano Diretor é tão das construtoras que é o único projeto de autoria do Poder Executivo que não é defendido, protegido, disputado pelo chefe do Executivo, pela liderança do prefeito nem pela bancada. O Plano Diretor na Câmara Municipal de Aracaju está quase órfão. Hoje só tem quatro defensores.
Infelizmente esses dez vereadores e essas três vereadoras não são os primeiros nem serão os últimos que vão cumprir mandato eleitoral. Infelizmente vamos ter que conviver com esse tipo de gente sem adjetivo capaz de classificá-los.
*Coordenador do Fórum em Defesa da Grande Aracaju

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