Enquanto O Governador do Estado, o prefeito da capital e seus secretários de saúde reúnem-se na busca de soluções para os grandes problemas da saúde pública em Sergipe e em Aracaju, no Hospital Cirurgia, que recebe grandes fatias de recursos do Sistema Único de Saúde – SUS, o desrespeito com os pacientes beira a irresponsabilidade.
Como paciente da ortopedia daquela Casa de Saúde, vivi e presenciei momentos dignos de revolta.
Começa pelo uso político do atendimento. Na UVA – Unidade Vascular Avançada, onde são atendidos os casos de cirurgia ortopédica de pacientes de todo estado de Sergipe e de alguns municípios de estados vizinhos, boa parte dos atendimentos obedecem aos pedidos políticos, principalmente de pessoas ligadas à saúde e ao próprio hospital. A ordem das cirurgias ortopédicas não é cronológica. A ordem é intercalada pelos pedidos, pelos bilhetes, pelos telefones.
Chegam ao ponto de desmarcar ou adiar cirurgias de pacientes sem padrinhos, para acomodar os apadrinhados.
Mas, o sofrimento dos pacientes da ortopedia do Hospital Cirurgia, só está começando na chamada UVA. Problema mesmo é no ambulatório, nas revisões. Aí é que se vê porque o SUS, tão bonito no papel, acaba tão desvirtuado e odiado pelos pacientes.
O ambulatório de revisões ortopédicas do Hospital de Cirurgia fica no pavimento superior. Não é brincadeira! Não é exagero! Será que é o mais recomendado? E pensam que tem elevador? Mutilados, cadeirantes, muletantes têm que subir dois lances de rampa íngreme para alcançar o atendimento.
Uma das características da revisão é o Raio-X. Aí o paciente tem que descer e subir novamente para fazer raio-x.
O local é muito quente. Não tem ventilação. Não é climatizado.
Apesar do agendamento ser feito no mês anterior, os pacientes que agendam para as 7h são atendidos perto do meio-dia. E os que agendam para as 12h, são atendidos a partir das 16h.
DONA FRANCISCA – Maria Francisca de Oliveira, residente na rua João Paulo, em Ribeirópolis. Nascida em 21/04/1924, portanto com quase 87 anos, sai de Ribeiropólis por volta das 9h da manhã do dia 1º de março, com uma infecção em uma cirurgia no fêmur. No Hospital cirurgia, na UVA, pelo lado da Av. Des. Maynard, fica por cerca de 90 minutos, até que é encaminhada para o Ambulatório, pelo lado da Rua Permínio Souza.
No ambulatório dizem que Dona Francisca não poderia ser atendida ali. Por cerca de vinte minutos dona Francisca fica dentro da ambulância enquanto decidem em qual lado do Hospital de Cirurgia ela poderia ser atendida.
Vencida a dúvida do próprio hospital, não tem maqueiro. O motorista da ambulância sozinho não consegue levar a maca de Dona Francisca para o andar superior do ambulatório Hospital de Cirurgia. Ninguém resolve e ninguém sabe quem resolve. Até que uma atendente orienta que tem maqueiro no Hospital, pelo lado da Rua Dom Bosco, mas não pode telefonar para lá. O motorista da ambulância teria que ir até lá. Mais vinte ou trinta minutos.
Depois foi o motorista da ambulância de prefeitura de Ribeiropólis quem fez uma pressão psicológica imensa sobre a idosa paciente e a sua acompanhante, dizendo que tinha que voltar e que elas iriam ficar ali sozinhas. Foi preciso a intervenção de nós outros pacientes e de funcionários do hospital para convencer o motorista a aguardar o desfecho
Depois mais cerca de duas horas esperando o médico para atendimento.
Depois volta para o R-X e sobe mais uma vez a rampa. Mais de 16h do dia 1º de março e Dona Francisca, 87 anos, sem se alimentar, com muita febre, muita secreção, ali deitada numa maca, numa sala quente à espera do atendimento desrespeitoso do Hospital de Cirurgia.
O Hospital de Cirurgia é um típico exemplo da saúde pública brasileira. Perceberam que não é problema de recursos? Pode ser descaso, má gestão, politicagem, insensibilidade, irresponsabilidade. Não é falta de recurso. Pelo menos no caso aqui narrado, não.
Numa tarde em uma pequena área de um hospital pude testemunhar tudo isso. Imaginem o resto! E como tem muito dinheiro público ali dentro, seria o caso do Governador e do Prefeito de Aracaju determinar mais rigor e mais fiscalização nos hospitais, clínicas, laboratórios e unidades de saúde e os usuários reclamarem mais. Calado sofre mais ainda.
JOSÉ FIRMO
Presidente da ADCAR
Presidente da ADCAR
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