Os moradores dos
povoados Robalo e São José, localizados na Zona de Expansão de Aracaju,
realizarão missa em homenagem aos mortos que são enterrados em cemitério
clandestino. A missa, celebrada pelo Padre Fernando Ávila, será realizada na
próxima sexta-feira, 2, Dia de Finados, às 7h, dentro do Cemitério dos
Náufragos, que fica à margem da Rodovia José Sarney, uma das praias mais
frequentadas por moradores e turistas.
A missa, além da
homenagem aos entes queridos dos moradores locais, serve também para marcar o
segundo ano da reabertura do cemitério, que esteve interditado pela Prefeitura
Municipal entre 2007 e 2010, fruto de uma decisão judicial.
ENTENDA O CASO – Os
moradores dos povoados Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca e Mosqueiro,
na Zona de Expansão de Aracaju, costumavam enterrar os corpos dos familiares em
cemitérios particulares. Uma das explicações para esse comportamento está na
distância física e no abandono por parte do Poder Público desde o início do século
passado.
A prática resultou na
existência de dez pequenos cemitérios, a maioria nos quintais das casas e
sítios. Entretanto entre os dez cemitérios está um com a marca da história de
Aracaju, de Sergipe e do Mundo: o cemitério dos Náufragos, no qual foram
enterradas centenas de corpos das vítimas dos torpedeamentos aos navios Beapendi, Araraquara e Aníbal Benévolo na
costa sergipana durante a Segunda Guerra Mundial.
Sobre esse cemitério
uma controvérsia persiste: moradores mais antigos da Zona de Expansão afirmam
que o Cemitério dos Náufragos não surgiu com a tragédia dos navios torpedeados
e que o cemitério já existia há muito anos antes, com o nome de Manguinhos, por
outro lado há relatos que dão conta que foi com os corpos das vítimas do
torpedeamento que foi inaugurado o Cemitério dos Náufragos.
Desde o início dos anos
2000 que o Ministério Público Estadual tentava uma saída acordada para o
problema dos cemitérios clandestinos na Zona de Expansão, principalmente porque
até aquele ano poucas residências eram servidas com ligações de água tratada,
usando, assim água de poços artesianos.
Em 2006, não
conseguindo convencer as autoridades sobre o problema, a Promotoria do Meio
Ambiente ajuíza ação visando a interdição dos dez cemitérios clandestinos e a
construção de um cemitério dentro dos padrões técnicos e ambientais.
Em 2007 a Justiça
condena a Prefeitura de Aracaju e determina a interdição dos dez cemitérios e a
construção de um novo cemitério em Aracaju.
A Prefeitura apenas
interditou os dez cemitérios, mas não construiu o novo e vem recorrendo durante
todos esses anos à Justiça para não construir. O processo 200611201439 tramita
na 12ª. Vara Cível e parece longe de ter uma conclusão a curto.
Por outro lado a
Prefeitura de Aracaju, no ano seguinte à decisão judicial, autorizou
verbalmente aos moradores a reabrirem dois cemitérios: o Maria Rosa, no Povoado
Areia e o Cemitério de Nelito, no Mosqueiro.
Em 2010, em reunião, os
moradores dos Povoados Robalo e São José decidiram reabrir o Cemitério dos
Náufragos. Em 2011 realizaram a primeira missa no local.
Agora, com dezenas de
corpos enterrados desde a reabertura, os moradores realizarão a segunda missa
no local.
Um dos organizadores do
evento, o coveiro Lourival Delfino, classifica o ato como de grande importância
para a Comunidade, que passou três anos sem ter acesso ao Campo Santo.
Para José Firmo,
vice-presidente da Associação Desportiva, Cultural e Ambiental do Robalo
(ADCAR), a reação dos moradores à interdição do cemitério demonstra o abandono
por parte do Poder Público. “Não ter cemitério adequado é uma demonstração de
que a Zona de Expansão não é prioridade como dizem.”, diz Firmo.
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